Paisagem da janela

Paisagem da janela

Li, recentemente, um artigo científico escrito por um grupo de pesquisadores de Michigan. Não é um artigo recente, foi escrito há 20 anos. Trata da importância das janelas na vida das pessoas, achei muito contemporâneo! Nesses tempos de home office... Muita gente trabalhando de casa, trabalhando mais e com mais dificuldades: situações de estresse tecnológico, adaptações na rotina doméstica, colegas ausentes, falta do apoio deles, das breves conversas...
Esses pesquisadores contam que numa jornada de atenção, pequenos momentos de relaxamento restauram o ânimo. Que toda atenção dirigida demanda muito esforço (além do próprio esforço em permanecer atento...) e que a restauração deve vir de uma atividade que não exija ainda mais esforços, afinal, a capacidade de se esforçar é finita.
Assim sugerem olhar pela janela!! Breves momentos de divagação, acumulando-se, podem ajudar a combater a fadiga. “Mesmo que não haja nada a observar, o mundo além do vidro estimula a mente a vagar”. Porém, o conteúdo da vista pode interferir na qualidade de vida. Paisagens atraentes chamam atenção por si só, não demandam esforços de atenção dirigida, transportam rapidamente as pessoas, sem perca de tempo com deslocamentos.
E então passam a discutir a janela e a vista observada...
A janela limita a imagem, como as molduras de um quadro. Tudo o que está além dela instiga a imaginação. E há a sensação de que a pessoa está abrigada dos perigos que podem existir no ambiente observado, a sensação de refúgio, de proteção.
Consideram que a vista deve ser distante e extensa. Isso proporciona a sensação de ver um “pequeno mundo inteiro, como quando vemos, do céu, um mundo miniaturizado”. O senso de miniatura importa, encoraja. A vista também deve ter relação com ambientes restauradores, pois é justamente isso que se está procurando.
A pesquisa avaliou o efeito de paisagens com elementos naturais e com elementos urbanos sobre o bem-estar das pessoas, considerando três parâmetros: capacidade de concentração, capacidade de ficar em paz, e capacidade de responder às tarefas diárias. Também examinou se interações com a natureza interferiam.
Surpresa!!! As paisagens naturais foram as que mais favoreceram a sensação de satisfação, “a natureza é um conceito inclusivo”.
Interações com o meio ambiente (passeios por trilhas, cultivo de flores e hortas) aumentam a capacidade de responder positivamente a tarefas diárias. A observação de árvores, e mais ainda, de árvores sobre áreas gramadas, aumenta a capacidade de ficar em paz e a visualização de campos cultivados aumenta a concentração.
A observação de jardins, flores, áreas gramadas e com intervenção de paisagismo proporcionam também a satisfação com a vizinhança, uma vez que foi necessário um cuidado coletivo ou que beneficia a todos.
Permitir às pessoas que possam afetar as paisagens que estão vendo, de acordo com o que gostariam de ver, é um poderoso motivador de mudanças dos espaços que as rodeiam.
Pode começar pelo jardim que você olha da sua janela...

https://doi.org/10.1177/00139160121973115

E hoje, da janela lateral do quarto de dormir...o que vemos?
Uma igreja, um sinal de glória, um muro branco, pássaros, grade, um velho sinal?
Cores mórbidas, temporal?
Homens e seus velórios...